segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A Minha Época

Quando a gente tem 15 anos, coisas como casar e ter filhos soam tão distantes.  Quando se tem 30 e percebe-se que essa realidade chegou tão rápido, a gente começa a torcer para que senão o tempo, pelo menos a nossa idade estacione por ali mesmo.  Mas a cada dia, as coisas que preenchem a nossa rotina e a nossa vida parecem nos impelir a falar palavras como "na minha época" ou "quando eu tinha a sua idade".

É triste.  Quando minha filha mais velha tinha 4 anos me perguntou curiosa:

  Mamãe, na sua época tinha dinossauros?

Gostaria de conseguir explicar para ela que a verdade é que eu amo ter 30 anos.  Como diz uma querida amiga "os 30 anos me trouxeram uma credibilidade que os 20 nunca me deram".  A vontade de tentar guardar tudo isso que a gente conquistou até aqui e viver tudo de uma vez, em um único gole, é uma tentação constante para mim.  Desfrutar o convívio das minhas engraçadíssimas crianças pequenas, ter a companhia de um marido que me ama, poder fazer algo por alguém, ter liberdade de escolher quem e o que eu quero que participe da minha vida... 

Alguém há de dizer: mas e a crise?  E eu pergunto: o que é que a crise tem a ver com isso?

A cada dia que passa sinto mais urgência em viver de verdade, com ou sem crise.  Não quero pedir licença para ser feliz, seja para as pessoas ao meu redor ou para a conjuntura econômica.  Sinto uma enorme gratidão por uma vida tão improvável quanto a minha.  Não há dinheiro que pague as boas histórias que vou colecionando aqui e ali, das amizades e das armadilhas tão incríveis que me aparecem a todo o momento.

Não tem nada a ver com dinheiro, embora dinheiro até que me cairia muito bem.  Mas a experiência só tem aumentado o meu amor por esse plano de felicidade que Deus preparou para nós.  E eu posso dizer com sinceridade, que eu vivo as palavras do Mestre quando disse: 

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8:32).

Estou convencida que o profeta sabia o que estava falando quando ensinou seus filhos que os homens existem para que tenham alegria (2 Néfi 2:25).  Sinto essa alegria!  E acredito que ela está disponível a quem quiser encontrar no Evangelho de Jesus Cristo.  No Livro de Mórmon, conhecemos a história de um dos maiores missionários de todos os tempos, Amon.  Sobre ele foi dito:

"Ora, a aalegria de Amon foi tão grande que transbordou; sim, ele ficou tão enlevado na alegria de seu Deus, que se lhe bexauriram as forças e caiu por terracnovamente.
"Ora, não foi isso alegria extrema? Eis que essa é a alegria que ninguém recebe, senão o verdadeiro penitente e o que humildemente busca a felicidade."Alma 27:17-18
Estou convencida de que enquanto eu viver nessa terra, esta é a minha época e o meu tempo.  E que sejam tempos felizes!


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Humildade ou gratidão?

Hoje quando fui dar banho nas meninas, fiquei muito feliz de ver que a mais velha estava lavando seu cabelo sem ajuda.  Fiquei especialmente satisfeita ao vê-la enxaguar a cabeça sozinha, porque a hora de lavar o cabelo geralmente é a que suscita mais lágrimas e reclamações.  Quando dei a ela meus sinceros parabéns por ter conseguido, ela prontamente rejeitou meu elogio dizendo que ela não podia fazer isso e sim a água.  Repetindo meu tom de voz e palavras disse "Parabéns água por ter tirado o xampu do meu cabelo!"

Eu ri, mas isso não significa que eu não tenha internalizado a profunda lição.  Em algum momento da nossa vida a gente esquece o que as crianças já sabem: que nós não fazemos o que fazemos por nós mesmos.  Eu não posso tomar banho sem a água e o sabão, cozinhar sem a comida e o fogão, ou trabalhar sem os colegas e os clientes.  Sinceramente não sei dizer se isso é uma lição de humildade ou de gratidão, ou se pela primeira vez entendo que não dá pra desassociar as duas coisas.

Lembro-me bem quando o jovem rico procurou o Salvador:


"E saindo para o caminho, correu para ele um homem, e pondo-se de joelhos diante dele, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém  abom senão um, que é Deus."
Marcos 10:17-18
A atitude da minha filha, tão parecida com a de Cristo, me fez repensar minhas próprias atitudes.  Acho que correr atrás das coisas que precisamos na vida da gente às vezes nos faz superestimar o papel da nossa performance e atitude.  Tão importante quanto são o esforço e a determinação, é sábio reconhecer que não somos maiores do que as nossas circunstâncias e somos constantemente limitados por elas.  

Diante desses pensamentos, as palavras do Rei Benjamim ganham nova perspectiva para mim:


"Pois eis que se o conhecimento da bondade de aDeus despertou agora em vós a consciência de vossa nulidade, e de vosso estado indigno e decaído —
Digo-vos que se haveis adquirido aconhecimento da bondade de Deus e de seu incomparável poder e de sua sabedoria e de sua paciência e de sua longanimidade para com os filhos dos homens; e também da bexpiação que foi preparada desde a cfundação do mundo, a fim de que, por ela, a salvação possa vir para aquele que puser suadconfiança no Senhor e guardar diligentemente seus mandamentos e perseverar na fé até o fim da vida, quero dizer, a vida do corpo mortal —
Acreditai em Deus; acreditai que ele existe e que criou todas as coisas, tanto no céu como na Terra; acreditai que ele tem toda a asabedoria e todo o poder, tanto no céu como na Terra; acreditai que o homem não bcompreende todas as coisas que o Senhor pode compreender.
E novamente, acreditai que vos deveis aarrepender de vossos pecados e abandoná-los e humilhar-vos diante de Deus; e pedir com sinceridade de coração que ele vosbperdoe; e agora, se cacreditais em todas estas coisas, vede que as dfaçais."
Mosias 4:5-6,8-9
É maravilhoso descobrir que acreditar ser pequeno não nos torna menos capazes quando reconhecemos a existência de um Deus que é grande e que nos ama profundamente em nossa pequeneza.  

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Alvin e os Teimosos

Meu sonho de consumo nos últimos tempos tem sido dormir.  De vez em quando algo mágico acontece e eu consigo dormir um pouco mais.  É incrível perceber nitidamente minha memória e meu foco melhorando, minha energia aumentando e me sinto até mais inteligente.  Infelizmente, este não é um desses momentos, mas eu tenho descoberto muita coisa sobre mim e sobre os outros através do meu cansaço.  Às vezes a gente idealiza tanta coisa e o esgotamento nos obriga a simplificar o máximo possível por uma questão de sobrevivência.  

Tão importante quanto essa descoberta tem sido constatar que não se pode abrir mão de certas coisas e o meu desafio pessoal tem sido definir que coisas são essas.  Porque eu me descubro frequentemente priorizando errado e sentindo na pele os efeitos disso.  Hoje de manhã, por exemplo, eu já estava muito aborrecida com as atitudes da minha filha mais velha.  Ela tem quase 6 anos e sempre foi uma menina boa de negociar.  Aos 3 anos ela deixou todas as vendedoras de uma loja de brinquedos do Barra Shopping perplexas com a sua maturidade: ela pediu um brinquedo e eu expliquei que ali estava muito caro e que poderíamos procurar onde compraríamos aquela boneca no menor preço.  As vendedoras esperavam pelo menos alguma manha ou protesto e vieram todas ver a criança que tão pequena entendia um argumento complexo assim.

Por isso eu não conseguia aceitar que nas últimas semanas ela estivesse tão do contra e tão rebelde.  Quando chamei para entrar no banho fez uma cena e eu tive que gastar minha autoridade no melhor estilo "não perguntei o que você quer fazer, estou mandando".  E foi justo aí que me veio alguma luz para entender o que estava acontecendo com a minha pequena.  Falei para ela que estava agindo como o Alvin, do filme dos esquilos, só que eu não sou Dave (personagem que adotou os esquilos) e ela ficaria muito seriamente de castigo.  




Pela primeira vez nos últimos dias ela deu uma amolecida diante de um argumento meu.  Percebendo que a porta do diálogo tinha sido aberta, resolvi ir mais a fundo.  Perguntei se ela estava imitando o jeito do esquilo Alvin e ela pensou um pouco e disse que sim.  Expliquei pra ela como as atitudes do Alvin magoavam e complicavam a vida dos seus irmãos esquilos e do Dave.  Ela pareceu entender e brincou feliz no banho.  

Na hora de sair, não me obedeceu e queria ficar mais tempo brincando na água. Nessa hora eu relembrei que ela havia me dito que não gostava do banho antes de entrar na água.  Ao ver que ela me ignorava novamente, falei de maneira séria que se ela não queria sair do chuveiro era porque ela estava mentindo quando disse que não gostava de banho.  Ela parou, saiu e me pediu desculpas por ter mentido.

Essa conversa me fez perceber o que o meu cansaço estava me fazendo ceder em algo importante.  Estava aceitando que minha filha assistisse desenhos sem o meu acompanhamento ou aprovação em momentos em que precisava cuidar da casa.  Eu anestesiava minha consciência por não permitir que ela visse por mais tempo do que o horário que eu estabeleci, mas a verdade é que a influência desses personagens estava começando a nos impactar todos os dias e eu nem estava atenta para isso!  De repente as palavras de Cristo ganharam uma nova perspectiva: 

"Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa." Mateus 24:43

Não acredito que eu possa manter a minha filha em uma redoma protegida de todos os maus exemplos existentes.  Na verdade, nem sei se o melhor é proibir o desenho que estava causando o problema.  Mas percebi que atenção nesse ponto não é negociável, ao menos não suas consequências. 



terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Ano Novo, Vida Velha

Esse ano a virada foi um tanto melancólica em lembrança do aniversário do avô do meu marido. Além de ser querido por ser o vovô, os pais do meu marido moraram a vida inteira com ele e a convivência sempre foi muito próxima.  Essa lembrança me fez pensar no meu próprio avô, único que conheci, que não gostava nada de ano novo.  O pessoal de casa fazia piada, mas nada mudava a ideia dele: os anos novos só vem para trazer inflação e dureza!

Mas ele tinha motivo para pensar assim.  Meu avô criou 7 filhos e nesse processo sobreviveu as mais importantes crises inflacionárias que o Brasil e o mundo já viu.  É certo que eu puxei o lado otimista da minha avó, mas existe uma lição importante na frustração do seu Elias, uma pessoa extremamente organizada.  Os primeiros meses do ano eram sempre muito apertados e ele com muita disciplina e trabalho conseguia colocar o orçamento em dia.  E justo quando as coisas acabavam de entrar mais ou menos nos eixos, vinha o ano novo e com ele todas as tabelas atualizadas! 

A verdade é que os recomeços das nossas vidas não acontecem todos no mesmo lugar.  O ano novo de 2016 começa com a Luciana que terminou 2015 diferente da que terminou 2014 (e são 7 kgs mais magra, podem me dar os parabéns).  Se por um lado isso pode ser considerado ruim, eu sigo a linha do meu avô de apreço pelo que construí com a vantagem de ter concentrado os meus esforços em coisas que a inflação não pode fazer desaparecer.  Sim, eu apertei o cinto e vi o milagre da multiplicação no orçamento de 2015, mas conquistamos outras coisas que ninguém pode nos tirar.  

Uma delas recebi de herança através do exemplo deste mesmo avô.  Quando seu Elias se aposentou, viu que as pessoas do condomínio de casas onde ele morava precisavam ir longe para resolver coisas bobas como comprar pão.  Era um condomínio fechado que se estendia em uma ladeira bem íngreme.  Então ele fez da metade da garagem dele uma vendinha, onde tinha esses artigos que as pessoas compram sempre como refrigerantes, ingredientes básicos, biscoitos e os meus preferidos, doces.  Quando eu estava na casa da minha vó, a gente visitava a vendinha do meu avô algumas dezenas de vezes pedindo balas, chiclete, paçoca... 




Claro que meu avô se preocupava com as mercadorias dele.  Eram muitos netos e a gente não parava de pedir nunca.  Tenho certeza que se ele nos desse todas as vezes que pedíamos teria falido.  Mas essas recusas não nos desanimavam, mesmo que ele fizesse cara de bravo, porque a gente sabia que depois ele acabava cedendo.  E em todas nossas idas e vindas o meu avô estava atendendo alguém ou ele estava lendo a Bíblia ao som de alguma música religiosa.

Ao longo dos anos isso sempre me deixou curiosa.  Ele lia o jornal de manhã cedo, antes que eu acordasse.  Da hora que eu acordava até a hora do jornal nacional que ele via todo dia, ele tinha apenas esse mesmo passatempo.  Ele já sabia todas as histórias de cor, por que ele não se cansava?  Como eu sempre gostei de ler, entendia que ficar o dia inteiro em um livro é sonho de consumo.  Mas por que a mesma história toda vez?  

Hoje anos mais tarde, eu mesmo já sei tantas dessas histórias do começo ao fim.  E como o seu Elias, eu não me canso de aprender com elas, descobrir sobre o meu Salvador e aprender lições com cada vida que está registrada nas páginas da Bíblia.  Como Cristo ensinou aos judeus: 

"Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam".
João 5:39

Com seu amor pela palavra de Deus, seu Elias e dona Maria me deram um "tesouro no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam" (Mateus 6:20).  Certamente esse ano eu preciso correr atrás como todo brasileiro, mas graças aos meus verdadeiros amores, essa busca vai ter paz, propósito e consolo.