quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Nova Bíblia Almeida 2015

Pois é, eu sempre falo das ironias da vida.   E essa semana o meu marido estava comentando: foi só eu acabar de ler o Velho Testamento em um dia que lançou a Bíblia Almeida 2015 no dia seguinte. Pode isso?

Tudo bem, isso só quer dizer que eu vou ter que ler de novo agora com as notas de rodapés.  Vai ser uma leitura muito mais rica, não tenho dúvidas.  E justo essa semana fui desobrigada do chamado que mais amei em toda a minha vida e vou começar um novo desafio.  Certamente vou ter outras coisas em mente e é sempre um prazer encontrar respostas nas páginas da Bíblia.   Para mim, ler a Bíblia tem um valor emocional adicional porque eu sempre mato um pouco da saudade dos meus avós quando chego nas histórias da minha infância.

O maior presente que ganhei dessa experiência foi uma convicção fortalecida do Salvador Jesus Cristo.  Agora eu efetivamente sei que Ele é o mesmo desde Adão até agora, nos nossos tempos.  É nítido ao acompanhar séculos de história que a humanidade mudou e muito, mas Ele permaneceu fiel em seu amor a nós.  Consegui compreender melhor a história de Néfi no Livro de Mórmon, ao visualizar melhor o contexto que ele vivia em Jerusalém antes de fugir com sua família.



Mas essa leitura do Velho Testamento merece ser comentada aqui no blog, pois aprendi tanta coisa que eu nem imaginava.  Porque a verdade é que eu sempre "roubei" lendo a Bíblia:  eu sempre pulava as genealogias, as partes que eu julgava ser mais chatas, as descrições...  E dessa vez eu li tudo,  mesmo fazendo uma leitura dinâmica das partes mais descritivas, confesso.  Posso dizer que precisei de muita disciplina, foi um projeto de mais ou menos 1 ano e com crianças pequenas em casa.  E terminando agora, o sentimento que eu tenho é de pura gratidão por todas as pessoas que se sacrificaram para que nós tivéssemos esses escritos sagrados em nossa própria língua.

Hoje de manhã vi esse lindo vídeo falando do lançamento da Bíblia Almeida 2015 e, principalmente, contando a história de devoção desse homem de Deus, João Ferreira de Almeida.   E pensar que o grande legado que meus avós me deixaram, o amor a palavra de Deus, não teria sido possível se João Ferreira de Almeida não tivesse esgotado sua vida nesta causa.  Vale a pena parar um tempinho para ver!

https://www.lds.org/church/news/lds-edition-of-biblia-sagrada-almeida-2015-called-a-great-blessing?lang=por

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Que lindos são!

Ontem quando a reunião da Igreja acabou, uma amiguinha da minha filha, também com 5 anos, abriu o berreiro.  Como eu gosto muito dela, fui perguntar o que tinha acontecido, ela cercada pelas outras meninas que tentavam em vão consolá-la.  Foi aí que ela me relatou a tragédia: ela tinha convidado uma amiguinha para a Igreja e ela não tinha vindo.  

Eu queria ter sido um pouco mais adulta nessa hora, mas meus olhos se encheram de lágrimas e eu disse pra ela que a minha também não tinha vindo e que eu sabia como ela se sentia.  Uma das meninas olhou pra mim surpresa e perguntou: "Tia, você vai chorar também?"

É, gente, eu achava que estava disfarçando muito bem, mas parece que não deu e eu passei de bobona nessa história.  O fato é que o meu coração ficou apertado porque eu sei muito bem o sentimento que a minha pequena amiga estava experimentando.  Acho que é uma sensação doída para todo mundo porque quando penso nos motivos pelos quais eu não compartilho o evangelho em todas as oportunidades, o medo de sentir assim sempre está lá.  A gente não quer ver esse convite tão querido sendo ignorado, ou pior ainda, rejeitado.

Muita gente não gosta de ouvir falar em religião, mesmo que sejam religiosos.  Eles pensam que toda vez que alguém convida para alguma coisa é um desrespeito às suas convicções.  Acontece que você não pensa assim se é convidado a ir a um clube, academia, outro trecho da praia, ou qualquer coisa do tipo, embora no fundo seja a mesma coisa.  Eu convido para a Igreja não porque eu acho que a sua não serve, mas porque eu gosto muito da minha e eu simplesmente quero compartilhar isso com todas as pessoas.  Eu não tenho problema nenhum em ser convidada para nenhuma outra religião e iria em qualquer uma que me convidassem.  Aliás, nenhum amigo que tenha me convidado recebeu um não, a não ser que eu tivesse um compromisso na data.

Acima de tudo, eu prezo pelo carinho e pelo respeito.  Se percebo que a pessoa não se interessa pelo assunto, eu não trato dele.  Mas é impossível não saberem que sou da Igreja.  Se me perguntarem o que eu fiz no final de semana, eu não posso falar só do sábado posso?  Sempre vou mencionar que eu fui a Igreja.  Se me perguntarem porque ajo assim ou porque faço assado, muitas vezes a explicação está nos ensinamentos que recebo lá.   E por que tem gente que me olha torto quando isso acontece?  A estes eu digo:

Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.
Romanos 1:16

E tem mais: esse mesmo Paulo que declarou isso, um dia foi desses de rolar o olhinho quando um cristão abria a boca.  Eu não vejo nenhum bom motivo para não mostrar quem sou e o tanto que eu amo aquilo que eu estudo e pratico.  Eu gosto sim de tanta coisa e quem me conhece sabe que eu tenho um repertório bem variado de interesses.  Não é falta de assunto, é amor em abundância.  E claro, é também esperança, por que a gente nunca sabe onde é que essa palavra é necessária.  

Ainda aos Romanos, Paulo ensinou:

Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?
E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.
Romanos 10:13-15



Tento imaginar o que teria dito Isaías se ao invés dos pés empoeirados dos pregadores de sua época visse os lindos pezinhos em suas sandalinhas purpurinadas ou dos tênis que piscam dos pequenos que andam pelos parquinhos hoje falando de Cristo para todos os que conhecem.   Acho que eu tenho todos os motivos para me emocionar!





sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Uma Fé de Araque

Um dia desses estava em uma festinha e me identifiquei como membro da Igreja para os pais de uma amiguinha da minha filha.  Eles se surpreenderam e me perguntaram prontamente se eu era mórmon mesmo ou "se era de araque".  Confusa pelo comentário, perguntei como era ser um mórmon de araque.  Eles me contaram então de um membro da Igreja que eles conhecem que espera os outros saírem de perto para tomar uma caipirinha.

Minha primeira reação foi a de sentir vergonha.  Certamente foi péssima a mensagem que esse casal recebeu com essa atitude: essa religião é tão estranha que nem mesmo os praticantes acreditam mesmo.  Mas o tempo passou e quanto mais eu reflito sobre esse evento, mais eu sinto por esse irmão.



Pode ser que se trate de uma pessoa que se sentia extremamente sozinha e sem amigos e que encontrou na Igreja o apoio e amizade que precisava.  Embora a Igreja não seja um clube, ela com certeza ganha da maioria deles nos quesitos companheirismo e amor. Onde quer que eu esteja no mundo sou bem recebida pelos membros da Igreja.  Já fui convidada para almoçar, levada pra passear e até dormi na casa de pessoas que eu nunca tinha visto antes, simplesmente porque sabem que sou sua irmã em Cristo.  O carinho e amor que recebo lá sempre foram importantes, mas na minha adolescência, quando eu sofria mudando de um lado para o outro do oceano, foi fundamental sentir parte de algo maior e tão acolhedor.

Pode ser que esse irmão tenha sido criado na Igreja e que esteja tão enraizado estar entre nós que sinta como uma segunda família.  Ele ama tudo o que a Igreja proporciona, mas não acredita no que é ensinado e não sente aquilo que vê as pessoas ao seu redor tanto falar.  Assim, mesmo que seu estilo de vida não se encaixe mais em nossas práticas, ele prefere manter seu círculo de amizades, assim como nós cultivamos nossos laços familiares independente de qualquer coisa.  E pode ser que esse cuidado de não ser visto fazendo algo em que não acreditamos seja um cuidado para não preocupar e ofender aqueles que ele tanto estima.

Pode ser que ele realmente acredite na Igreja mas que tenha dificuldade com esse mandamento.  Eu sei bem o que é isso... Tem tantas coisas que eu sei ser o certo mas que eu não consigo fazer o tempo todo.  E essa sensação às vezes faz a gente querer se esconder e fazer errado sem ser incomodado por quem não consegue entender nossa dificuldade.

Pode ser ainda que ele não acredite em nada e esteja mesmo tentando vender uma imagem.  Talvez a situação dele como membro da Igreja e o convívio com os irmãos possa lhe trazer vantagens sociais na empresa em que trabalha e ele queira manter as aparências.

Seja qual for o caso, fico feliz de saber que ele está entre nós.  Não sei o nome nem qualquer outra referência dessa pessoa, mas fico pensando que em qualquer caso é melhor permanecer com gente que nos eleva.  Às vezes as forças nos faltam para sobrepujar nossa incredulidade, nossa quedinha por aquele mau hábito.  Mas se escolhemos estar entre pessoas que amam e servem a Deus, em algum momento esse amor e essa chama há de se acender em nós.

Mais importante que tudo é estar em lugares santos, onde os milagres acontecem.  Gosto de pensar na história do homem enfermo relatada no evangelho de João:

Depois disto havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres.
Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento da água.
Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são?
O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.
Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu leito, e andava. E aquele dia era sábado.
João 5:1-9


Após 38 anos doente e já sem forças, Cristo veio e deu àquele homem a cura que ele precisava.  Mas esse milagre só ocorreu porque ele estava no lugar certo.  Acredito que a toda mulher, homem, sendo jovem ou velho, em algum momento vai ter um encontro com o divino se simplesmente esperar o milagre junto ao tanque onde os anjos curam com o balançar da água.

Não quero dizer que não seja errado estar entre nós e agir de forma hipócrita.  Cristo repreendeu duramente aqueles que tentam parecer o que não são.  Mas digo que não é nosso o saber do que está dentro do coração daquele que age dissonante daquilo que professa.  E que mesmo que esteja tudo errado lá dentro, pode ser que no futuro seja tudo diferente.  Como sempre, nosso papel é estender nossa mão e nosso amor. 


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A sombra da inimizade

Recentemente vivi umas dessas cenas simples que marcam a gente.  Eu estava apressada para resolver uns problemas antes de dar aula, andando quase correndo para fazer tudo a tempo.  Como carioca da gema que sou, fui andando pela rua ligada em tudo o que estava acontecendo.  Foi quando percebi um homem negro sentado no matinho em frente ao terreno baldio, claramente um dos trabalhadores que estava esperando o ônibus.  Nossos olhares se cruzaram, mas continuei no meu caminho acelerando e pensando em quantos minutos me restavam.  Me surpreendi quando ouvi o tal homem resmugar que ele era um trabalhador e que não havia necessidade de ter medo dele, que não era nenhum ladrão.  Não parei para explicar nada, até mesmo porque ele não acreditaria, mas doeu lá dentro saber que aquele homem deve ter passado por tantas situações que explicavam a sua ofensa e mágoa.  Prossegui com tristeza considerando como é triste saber que fugir dele era mais provável que correr atrás do meu prejuízo.  

Existem coisas que são mais fáceis de se enxergar nos outros do que em nós mesmos.  E uma das melhores delas é a agressividade: é muito fácil a gente se sentir destratado, mas difícil de se sentir um grosso ou grossa.  Isso porque a gente sempre sabe e sente todos os motivos que explicam nosso comportamento: nosso cansaço, nossa fome, nossa pressa, o carro que bateu, o ônibus que não parou, contas atrasadas e incontáveis mais motivos para o desalento.  O senhor no ponto de ônibus não poderia jamais saber que eu mesma coleciono histórias em que fui vítima do mesmo preconceito que ele e busco alertar as pessoas para esse tipo de atitude.



 
Essa coisa da intenção poderia e deve ser conversada com muito mais propriedade pelos filósofos. Mas nas divagações que rolam na minha cabeça enquanto lavo louça, muitas vezes me pergunto porque a gente se importa tanto com isso, uma vez que a gente não tem como avaliar o que está dentro das outras pessoas.  Na verdade, eu passei a observar em mim mesma a tendência de tentar interpretar as intenções alheias para então decidir se eu me chateava ou não.  Quando eu enfim percebi o que estava fazendo, fiquei chocada comigo mesma. O pior de tudo que constatei em mim foi a tendência de suspeitar mal, ou seja, de atribuir ao outro a intenção de causar dano.  Pensar que o outro não fez algo para que eu o fizesse.  Pensar que o outro disse algo para me magoar. 

Na verdade, desde que ouvi e estudei o discurso do Elder Bednar da conferência de Outubro de 2006, essa ideia de escolher não me ofender tem sido minha meta, mas ela realmente parecia algo de outro mundo.  Na ocasião ele ensinou:


"Achar que alguém ou algo pode fazer com que nos sintamos ofendidos, zangados ou magoados é um insulto ao nosso arbítrio moral e reduz-nos a meros objetos sujeitos à ação. Contudo, como agentes, todos temos o poder de agir e escolher como nos conduziremos diante de uma situação ofensiva ou aviltante."
Foi só de uns tempos para cá que eu consegui entender que a chave para superar esses meus problemas era o amor.  Nas palavras de Paulo: 


O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
1 Coríntios 13:4-7

Passei a entender que esses atributos precisam estar todos presentes ao mesmo tempo para que eu tivesse sucesso em tudo suportar. Não bastava suspeitar o bem -- havia momentos em que a intenção era claramente o preconceito ou o conflito.  O que fazer então?  

Amar o ofensor, como Cristo ensinou, tem sido uma saída surpreendente para os meus problemas.  Antes de colocar isso em prática, eu achava que esse tipo de atitude me tornaria mais frágil e suscetível diante dos outros.  Mas a verdade é que desde que passei a me esforçar para olhar as pessoas dessa forma, me sinto menos vulnerável.  Mesmo que haja desentendimento aqui ou ali, é mais rápido para mim superar o acontecido e voltar a vida normal. 

É muito mais fácil ter um dia cheio de luz sem a sombra da inimizade.