terça-feira, 25 de agosto de 2015

O Dia Deleitoso

Eu me lembro de quando era criança e aprendi os 10 mandamentos.  Eu senti no meu coração o desejo de comprometer-me com eles, mas tinha um que eu não sabia como poderia fazer: santificar o dia do Senhor.   Quando eu conheci a Igreja e os missionários me explicaram que era um dia em que deveríamos evitar trabalhar ou usar o trabalho alheio,  eu fiquei empolgada de enfim ter alguma orientação neste assunto. 

Mas os anos foram se passando e eu fui vendo que era muito mais do que isso.  Eu realmente estava comprometida a não comprar ou usar serviços que não fossem essenciais no domingo, mas eu ainda não compreendia o que era o Dia do Senhor.  E confesso que de um ano pra cá é que eu comecei a questionar o meu sentimento em relação a esse dia especial.

Esse mês fomos convidados pelos profetas a desenvolver uma atitude de reverência no dia do Senhor.  Fizemos algumas mudanças em nossa família para que houvesse mais espiritualidade.  Quando saí de casa, ainda pensando sobre esse assunto, abaixei para ajeitar minha sandália e, para minha surpresa, tinha um louva-a-deus do ladinho do meu pé.

Eu sorri e sussurrei, “Entendi.”

Para começar é bom explicar o que está por trás dessa história.  Desde os tempos de Adão o Senhor exigiu que seus filhos separassem um dia de descanso.   Cristo obedecia essa lei, frequentando a sua sinagoga local no dia de sábado (Lucas 4).  Porém, depois da ressurreição, os seus discípulos passaram a  se reunir no domingo, para honrar a vitória de Cristo sobre a morte (Atos 20).  Assim, deixamos de separar o último dia da nossa semana e passamos e oferecer o primeiro dia, uma lembrança de que Cristo deve estar em primeiro lugar em nossas vidas.


Mas aquele bichinho me trouxe mais uma lembrança: de que o ato de separar um dia para Deus é uma maneira de louvar, ou seja, de demonstrar amor por Ele que nos amou primeiro.  Com essa nova luz, meu dia discorreu de forma diferente do que eu tinha pensado.  Ao orarmos em família no final do dia, o poder que senti foi nítida confirmação de que Ele aprovava as mudanças que fizemos.  Finalmente consegui chamar seu dia deleitoso de todo o meu coração.  

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ser ou não ser dona de casa

Existe uma lenda que diz que em algum lugar é possível ser uma pessoa adulta, independente, sem ser uma dona ou dono de casa.  Minha vó e minha mãe sempre me avisaram que esse é o destino de todo ser humano: crescer e ter que cuidar da própria roupa, do próprio nariz.  Eu até que tentei adiar o máximo esse momento de plena responsabilidade, só me mudando da casa dos meus pais quando me casei.  Já estou 8 anos nesta estrada e acho que já deu tempo de aprender algumas coisas.

A primeira delas é aceitar aquilo que é um fato da vida.  Por muito tempo eu comprei todas as ideias oferecidas por aí e o resultado era sempre ficar ressentida.  Ficar pensando no ser ou não ser, que na verdade não era meu para escolher.  Acabava então naquela situação em que se escolhe o não e se sente oprimida por essa opção não estar no cardápio.  Sim, se eu tivesse dinheiro de morar em um hotel, usando lavanderia e o restaurante desde o desjejum realmente seria a minha vida perfeita.  Mas quem eu conheço que vive assim?  




Com duas crianças, o meu esforço para manter o nosso lar um lugar habitável, quiçá agradável, tem me feito frequentemente recorrer ao convite do Salvador:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.Mateus 11:28-30

Tenho refletido bastante sobre essa ideia de tomar sobre mim o jugo, ou seja, aceitar as coisas como são.  Acho que eu gastei muito tempo e energia tentando mudar coisas que não são negociáveis.  Especialmente no que diz respeito ao serviço doméstico, onde só há três possibilidades: ou é feito por mim, ou nada é feito, ou estou colocando a minha carga nos ombros de outra pessoa.  Após muita ponderação concluí que, no meu caso, o mais indicado era aceitar o desafio de frente.

E que desafio! Me sinto em uma montanha-russa quebrada onde tenho que levar o carrinho nas costas na hora da subida.  Ontem de noite eu estava pensando em como dar conta de tudo e na  nossa leitura das escrituras em família, as palavras da história ganharam um significado especial para mim:
E aconteceu que a voz do Senhor lhes falou em suas aflições, dizendo: Levantai a cabeça e tende bom ânimo, porque sei do convênio que fizestes comigo; e farei um convênio com o meu povo e libertá-lo-ei do cativeiro.
E também aliviarei as cargas que são colocadas sobre vossos ombros, de modo que não as podereis sentir sobre vossas costas enquanto estiverdes no cativeiro; e isso eu farei para que sejais minhas testemunhas no futuro e para que tenhais plena certeza de que eu, o Senhor Deus, visito meu povo nas suas aflições.
E aconteceu que as cargas impostas a Alma e seus irmãos se tornaram leves; sim, o Senhor fortaleceu-os para que pudessem carregar seus fardos com facilidade; e submeteram-se de bom grado e com paciência a toda a vontade do Senhor.  
Mosias 24:13-15 
Acessado em 17/08/2015 em https://www.lds.org/scriptures/bofm/mosiah/24?lang=por


 Posso dizer que tenho sentido mais paz ao escolher a paciência de aceitar a louça nossa de cada dia.  E de alguma forma tem sido melhor do que eu esperava.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sempre Tem um Plano B

Ontem na Igreja foi complicado controlar as crianças no meio da animação de dia dos pais. Meu marido normalmente vai a outras unidades da Igreja para fazer o trabalho que ele foi chamado para coordenar e, estando na nossa ontem, elas ficaram muito felizes.  Elas também estavam muito felizes com nossos vizinhos de quem elas gostam muito que estavam lá nos visitando.  

Quando eu pensava que não tinha mais jeito, vi que tinham crianças montando Lego e me veio a ideia de que elas se interessariam por essa brincadeira.  Então mostrei para as duas e elas morderam a isca.  Sentei-me com elas junto das outras crianças que brincavam de forma reverente.  Não me lembro exatamente do que aconteceu, mas em um momento da brincadeira eles precisaram fazer um adaptação.  Então o mais velho veio sussurrar pra mim: "Tia, sempre tem um plano B."

Eu sorri para o menino e agradeci por aquelas palavras inocentes que aparentemente não tinham nenhuma consequência.  Mal sabia ele que eu estava cozinhando a ideia do monte de coisas que eu precisava fazer essa semana e que ocorreriam sempre diferente do que eu tinha antecipado.  Estava pensando em como planejar parecia algo tão inútil já que tudo sempre acontecia no improviso e na adrenalina no final das contas.

Mas hoje as palavras continuaram na minha cabeça e me lembrei de como a própria história de Abinádi, no Livro de Mórmon, era um exemplo disso.  O Senhor enviou Abinádi para abrir os olhos do Rei Noé e de seus sacerdotes que estavam vivendo "la vida loca" e levando o povo a fazer o mesmo.  Bom, aparentemente a missão de Abinádi tinha sido um fracasso que culminou na sua morte pelo fogo.  Um dos sacerdotes do Rei Noé foi tocado pelas palavras do profeta e ele procurou o arrependimento e convidar as outras pessoas a fazer o mesmo.  O nome desse homem era Alma e ele ensinou e batizou nas águas de Mórmon, 450 pessoas e se tornaram uma nova comunidade de pessoas tementes a Deus.  No capítulo 18 do livro de Mosias aprendemos sobre a natureza doce de seu coração.


E aconteceu que ele lhes disse: Eis aqui as águas de Mórmon (pois assim eram chamadas); e agora, sendo que desejais entrar no rebanho de Deus e ser chamados seu povo; e sendo que estais dispostos a carregar os fardos uns dos outros, para que fiquem leves;
Sim, e estais dispostos a chorar com os que choram; sim, e consolar os que necessitam de consolo e servir de testemunhas de Deus em todos os momentos e em todas as coisas e em todos os lugares em que vos encontreis, mesmo até a morte; para que sejais redimidos por Deus e contados com os da primeira ressurreição, para que tenhais a vida eterna—
Agora vos digo que, se for este o desejo de vosso coração, o que vos impede de serdes batizados em nome do Senhor, como um testemunho, perante ele, de que haveis feito convênio com ele de servi-lo e guardar seus mandamentos, para que ele possa derramar seu Espírito com mais abundância sobre vós?
E quando ouviram estas palavras, bateram palmas de alegria e exclamaram: Este é o desejo de nosso coração.
https://www.lds.org/scriptures/bofm/mosiah/18.9?lang=por     Acessado em 10/08/2015
Não sabemos quantas pessoas haviam no reino, mas 450 era claramente uma minoria a julgar pelos detalhes da história.  Poderíamos pensar que a conversão deste povo especial era sucesso suficiente para justificar a morte de um homem extraordinário como Abinádi.  Mas... Tinha um plano B.  E esse plano se executou nos dias do filho do Rei Noé, Limi.  

Os infortúnios previstos por Abinádi começaram a acontecer e o povo começou a repensar seus conceitos.  O próprio Rei Lími era um homem bom, muito diferente de seu pai, buscando consertar os erros do passado.  Infelizmente não tinham mais contato com Alma ou com os demais nefitas.  Padeceram por um bom tempo até que foram encontrados por homens enviados pelo Rei Mosias.  Eu poderia e até gostaria de contar tudo, mas acho mais emocionante ler a história inteira que vai do capítulo 19 a 22 do livro de Mosias, no Livro de Mórmon.

Pensar nessas coisas me trouxe a confiança que faltava para manter-me firme nos compromissos que fiz com Deus.  Podemos confiar em um Deus que nunca é surpreendido, que tem planos que vão do alfa ao ômega.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

As segundas-feiras

Eu amo segundas-feiras.  Sinto que tenho uma semana inteirinha pela frente para fazer diferente, mudar o que não deu certo na semana anterior.  É um dia em que sinto mais motivação do que na sexta, quando a gente fecha a conta e vê que, infelizmente, por mais uma semana aquele projeto ficou pra depois.  Não me entendam mal, é claro que eu recebo bem o consolo de ter um final de semana para não pensar sobre isso!  Mas a energia de um início de semana sempre me faz bem.

As minhas segundas preferidas são as de sol.  E hoje não é só uma segunda de sol, mas uma segunda de início de mês.  São dois ciclos se iniciando ao mesmo tempo... É muita esperança neste coração, minha gente!  Esse mês que se encerrou foi um momento de muita reflexão para mim.  Pensei especialmente em como o segundo semestre chegou mais rápido do que eu pensava e sem as realizações que eu antecipava.  Parei para analisar o que exatamente deu errado e foi por isso um aprendizado e tanto.  

Dentre as coisas que eu aprendi, mais uma vez, foi através da vida do Salvador Jesus Cristo que encontrei o que realmente estava me atrapalhando.  Esse mês de julho estudamos o livro de Lucas e uma coisa que nunca me chamou atenção antes me atingiu profundamente.  Quando eu era adolescente ouvia falar na Igreja que Cristo é o exemplo de todas as coisas e eu ficava achando aquilo um tanto impossível de ser verdade.  No entanto, quanto mais estudo a vida do Salvador, mais encontro na conduta dele exatamente aquilo que está me faltando.

No capítulo 23 do evangelho de Lucas, Cristo esteve diante de Pilatos e Herodes e, achado inocente, foi escolhido para ser crucificado pelo seu próprio povo.  Logo após a escolha entre ele e Barrabás, começou o caminho da cruz com a ajuda de Simão, cireneu.  Então no versículo 27 e 28 eu encontrei aquilo que eu procurava:

E seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e o lamentavam.
Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.
Lucas 23:27,28


Vejam bem, eu não estou querendo dizer que essa é a única interpretação desta passagem.  Mas o que me marcou profundamente é que em meio tudo o que Ele passava, Ele  não estava se sentindo um coitadinho.  Sim, Ele estava sendo injustiçado, maltratado, traído, espancado, condenado, trocado, ridicularizado e tudo isso no processo de salvar toda a humanidade.  Mas nem assim Ele desejou ou sequer consentiu ser considerado uma vítima de tudo isso.  Ele entendia que era tudo parte do processo de redenção da humanidade.  

Eu não.  Eu tinha desculpa para todas as minhas metas que não tinham sido alcançadas. Porque todas as metas que eu não alcancei envolviam outras pessoas que me disseram não ou outras que me deixaram na mão depois de um sim.  Por mim, todas as filhas de Jerusalém poderiam chorar por mim e por que não comigo?  

Por isso minha resolução de segundo semestre é voltar a trabalhar nas metas do primeiro entendendo que os problemas fazem parte do processo do futuro que eu visualizei para mim e para a minha família.  E que venha agosto!