domingo, 14 de fevereiro de 2021

Preparados e despreparados

No domingo passado, Valentine's Day, eu escrevi o seguinte:

"Esse é o nosso quarto inverno nos EUA e uma família 100% carioca sempre sente essa estação inexistente nas nossas origens.  Felizmente para nós, começamos a nossa experiência com o frio em Utah, um lugar onde tudo é preparado para se viver no frio.  Meu principal medo, o de dirigir, lá não era um problema porque as ruas eram sempre tratadas e limpas quando necessário.  A neve se integrava a rotina e tudo seguia como um dia normal.  Eu aprendi a conviver com as lindas paisagens de inverno sem reclamar (muito).

Mas então Deus foi generoso conosco e nos trouxe para o meio do Texas, um dos lugares mais quentes dos EUA.  Eu sei que o calor é não é pra todos, mas ele é pra mim.  Se eu fosse uma planta, seria uma de sol pleno, com certeza!  Se eu tiver que passar por uma temperatura extrema, sempre escolherei o calor.  E aqui o verão é de lascar, mas a primavera e o outono são perfeitos; o inverno parece mais curto e é um frio como o sul do Brasil.  Aliás, acabei de verificar que a nossa latitude é a mesma de Porto Alegre.  

Acontece que desde março de 2020 que a vida não é mais normal em muitos aspectos e o inverno parece ter entrado na onda por aqui.  Pra começo de conversa, a gente achou que o mesmo tinha sido cancelado.  Desde dezembro tivemos muitos dias bonitos que lembram muito a primavera.  Tive muitas caminhadas tranquilas ao redor do lago perto de casa.  

Até que agora em janeiro tivemos um domingo de muita neve, como ninguém daqui consegue se lembrar de ter visto antes.  Foi uma grande farra para todas as famílias e adultos e crianças aproveitaram para brincar.  No dia seguinte, no entanto, o quentinho já voltou e seguimos com a vida normal.  Nem tivemos que limpar a frente da casa para sair pois a neve já se foi com o sol.  Pensamos que esse seria o "snow day" do ano.  Ledo engano: neste preciso momento estou encorujada aqui no meu quarto, depois de passar frio por 3 dias, com uma previsão do tempo congelante para a próxima semana.  Parece que as temperaturas normais de inverno para essa região só vão voltar no sábado.  Até lá, as temperaturas máximas previstas são negativas e lá fora a rua está coberta de neve.

Diferente de UT, o frio aqui é uma calamidade pública."

Pois eu escrevi do calor da minha cama e não imaginava que o caos do trânsito (com mortes, inclusive) e do comércio eram só o começo.  Poucas horas depois das minhas anotações, às 2 da manhã de segunda, a luz caiu pra voltar na quarta feira à noite, 62 horas depois.  Eu nunca tinha vivido em um apagão dessa magnitude e nem imaginava que viveria justamente uma das cidades ricas do país mais rico.  

Não é que tenha faltado tudo.  Ainda tínhamos gás e água, embora ela tenha sido contaminada por falta de tratamento (a estação também foi desligada por falta de energia).  Nossa casa tem isolamento e lareira e se fôssemos só nós dois teria sido um acampamento em casa.  Mas os pequenos sao mais sensiveis.  A nossa filha do meio comecou a adoecer nas primeiras 12 horas sem aquecimento.

Fiquei pensando que o mesmo evento pode ser uma alegria ou uma catastrofe.  Vivemos invernos mais rigorosos que eram uma atracao turistica.  E entao, vivemos uma calamidade em uma nevasca breve e mais leve do que as que vivemos nas montanhas.  A diferenca entre as duas situacoes foi simplesmente a preparacao.

Mas pior que as emergencias da vida, sera encontrar Deus sem a preparacao que somos convidados a fazer.   Por isso, minha sugestao de leitura hoje e Mateus 25.  Que Deus nos abencoe com uma alma preparada quando formos chamados para que possamos entrar no seu descanso e alegria.


domingo, 7 de fevereiro de 2021

Quebrada

Essa semana foi cheia das comemorações: na terça foi o nosso aniversário de casamento, na quarta o aniversário do nosso selamento no templo e, na sexta, os 7 anos da nossa filha do meio.  Certamente uma semana bem feliz e cheia de gratidão, só que, como normalmente é o caso, com uma apimentada.  

Acontece que no sábado de manhã eu tropecei em um bueiro.  Não daqueles do meio da rua, mas um daqueles da lateral.  Pra quem vinha da calçada não dava para ver e aqui onde a gente mora eles não são marcados como em outros lugares.  Quando eu pisei foi uma senhora torção!  Eu fui caindo e pensando "maaaaas justo agooooora que eu volteeeeei a dançaaaaaaar!" Eu mal tinha parado de me sentir dolorida das aulas de jazz que comecei em dezembro.

Bem assim.  Eu ainda dirigi pra casa porque felizmente foi a perna esquerda e o carro automático dá pra levar.  Coloquei gelo e fiquei quietinha com o pé pra cima o dia todo.  Meu marido queria me levar no médico mas, como essa já deve ser minha sétima torção na vida, eu tinha certeza que eu já sabia cuidar disso.  Falei pra ele comprar uma bota na Amazon e assim foi.  Eu ainda fiz as minhas comemorações - com apenas nós 5 porque o covid por aqui está em alta - com a bota nova fazendo estilinho com a de invernos passados.

Acontece que mesmo ficando o dia praticamente todo deitada e mexendo só o essencial, mesmo com gelo, anti-inflamatório, a bota, o pé pra cima, a coisa estava melhorando muito lentamente.  Quando chegou a quinta-feira uma ideia veio clara na minha cabeça: "isso é mais sério do que você pensa; você precisa de um médico."  Como aqui é complicado sair na semana com a escola, trabalho do marido, aula de dança das crianças, só fui no sábado.  A torção era realmente pior do que eu imaginei mas melhor do que eu temi quando reparei que não estava melhorando como esperado. 

Coisas que reparei essa semana: 

1.  Todos os meus filhos estão me imitando mancando.  Eles não podiam me imitar também guardando as coisas espalhadas pela casa?

2. Eu passava o dia atrás dos meus filhos (10,7 e 3 anos).  Passando o dia no mesmo lugar, reparei que eles só ficam onde eu estou.  

3. Essa torção respondeu as minhas orações.  

Claro que eu não estava pedindo pra me machucar.  Mas eu estava me sentindo cansada, preocupada em como eu não consigo colocar a minha família pra me ajudar com as tarefas domésticas e querendo saber como ficar em casa se eu já não aguento mais.  Basicamente esse pé fora de combate tira toda e qualquer vontade de ir pra rua e a minha casa está um caos que só a minha família tem como resolver, já que eu nem posso ficar muito tempo em pé.  Agora serão mais 6 semanas que a única coisa que eu posso fazer é ficar com o pé pra cima.  

Hoje eu já até reparei que aqueles círculos escuros embaixo dos meus olhos sumiram.  Eu realmente estava precisando de uma semana sem ficar pra lá e pra cá.  Acho que o apóstolo Paulo tinha toda razão quando disse:

"26 E da mesma maneira, também o Espírito ajuda as nossas afraquezas; porque não sabemos o que havemos de bpedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com cgemidos inexprimíveis.

27 E aquele que examina os corações, sabe qual é a intenção do Espírito; porquanto ele, segundo Deus, aintercede pelos santos.

28 E sabemos que atodas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."

Romanos 8:26-28

Então apesar dos perrengues que essa lesão tem me trazido, eu tenho me esforçado para enxergá-la como uma oportunidade de fazer aquilo que eu não faria se ela não tivesse acontecido.  Resolvi olhar para ela como uma bênção e acho que enfim entendi um pouco mais sobre o que significa carregar uma cruz.


Essa sou eu tentando combinar as botas - a terapêutica e a de inverno :)



sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Olhando para trás


Às vezes as coisas estão bem na nossa frente e a gente não vê!   Ou só acontece comigo?!  Pois desde o início desse ano eu tenho me preocupado em aprender a ouvir o Senhor.   Mas a primeira lição que Ele quis me mostrar é que Ele já me guia faz tempo.  O Senhor me mostrou que as decisões difíceis que eu tenho tomado nos últimos anos tem sido orientadas por Ele.  E com exceção de dois casos dos quais eu já me arrependi amargamente, eu na verdade tenho agido de acordo com a vontade Dele.

Isso quer dizer que eu fiz tudo certo?  Claro que não! Todo dia tem um pecado ou burrice aqui e ali pra ajeitar.  Mas eu estou falando das grandes decisões de moradia, emprego, orçamento, etc.  Essas coisas bem de gente grande e que afetam o destino de todos da casa, principalmente o das nossas crianças em sua fase formadora.

E como é que eu fiz pra acertar umas e errar outras?

Eu percebi que todas as vezes que eu acertei foi quando eu priorizei as coisas que o Senhor prioriza nos critérios de decisão.   Eis aqui o meu algorítimo de decisões para a família diante das opções de cada decisão:

1. Considerar os mandamentos do Senhor:  o que dizem as escrituras e os profetas? Tive alguma impressão enquanto lia as escrituras ou orava sobre esse assunto particular?  

2. Considerar a prudência da decisão: qual das opções me torna mais seguro e mais livre no futuro?

3. Considerar os sentimentos dos envolvidos: como eu e o Thiago juntos nos sentimos sobre as opções? Temos um acordo?

Todas as vezes que eu errei foi quando eu não respeitei essa ordem, ainda que os critérios tenham sido os mesmos.  O clássico exemplo é colocar a carroça na frente dos burros. No meu primeiro erro eu falhei em agir de acordo com o sentimento que eu tive enquanto estudava as escrituras.  No meu segundo erro eu falhei em considerar qual das opções me tornaria mais segura e livre no futuro.

E digo mais: em uma decisão que o Thiago discordou de mim e eu sabia o que era o certo, advinha o que aconteceu?  A opção errada simplesmente não foi pra frente, nos levando diretamente para a decisão certa segundo os sentimentos que eu tive no templo e que me pareceu ser mais segura e com mais liberdade.  O que explica precisamente que a ordem do meu algorítimo está realmente certa.  Também significa que se eu penso primeiro no Senhor e na sabedoria que Ele me deu, o passo 3 não vai me levar a escolha errada.  Ele vai intervir como já fez antes.

Essas últimas semanas, portanto, me sinto como Oliver Cowdery que ouviu do Senhor:

"Em verdade, em verdade te digo: Bem-aventurado és pelo que fizeste; porque me procuraste e eis que, tantas vezes quantas inquiriste, recebeste instruções de meu Espírito. Se assim não fora, não terias chegado ao lugar onde agora estás." (Doutrina e Convênios 6:14)

Em tempos de pandemia, essa confirmação tem sido muito preciosa.  Quando decidi permitir que as crianças brincassem com os amiguinhos enquanto éramos bombardeados com mensagens de que não poderíamos ver ninguém, sei que agi por inspiração conservando a saúde mental de toda a família.  Do mesmo modo, quando eu decidi não deixar mais brincar com os amiguinhos porque percebi que começaram a ter casos na região, vi que eu realmente tinha protegido a minha família na hora certa por causa dos casos que apareceram na vizinhança logo após a minha decisão.  Recebemos até uma mensagem de um vizinho ateu que disse para o Thiago: 

"Você tomou essa decisão na hora certa! Agora estão aparecendo casos entre os amiguinhos das nossas filhas" 

Mal sabe ele que foi um instrumento nas mãos do Deus que ele não acredita para nos dar uma mensagem importante.  

Porque a verdade é que o agir de Deus está em todos os seus filhos quando buscam amar e fazer o bem, acreditemos Nele ou não.  Mas quando acreditamos, Ele pode fazer muito mais por nós.  Ele pode nos segurar pela mão e levar-nos para caminhos nunca antes sonhados e certamente melhores do que aquilo que almejamos.


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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Minha meta de ano novo!

Esse foi o meu terceiro ano novo nos EUA.  O do ano passado eu aproveitei com a família no Brasil e até as crianças acharam tão maravilhoso que hoje mesmo estavam falando nisso.  Elas sempre lembram!  Eu sou tão grata por ter ouvido o Espírito Santo que me urgiu a ir logo antes de toda essa confusão que não me permitiria viajar por um tempo.

Uma semana depois dos votos de alegria e novos tempos e as pessoas ao redor parecem mais uma vez cansadas e tristes.   Desde 2017 que eu passei a acumular as ansiedades de duas nações e isso tem sido mais pesado em alguns dias do que outros.  

Até hoje eu não tinha uma meta de ano novo, mas os eventos dessa primeira semana aqui nos EUA me mostraram que a coisa mais importante que eu preciso aprender é ouvir a voz do Senhor.  A saber, a semana começou com uma proposta de lei que substitui o uso de palavras de gênero específico como “mãe, pai, irmão, irmã, filha, filho,” etc.  Ver os meios de comunicação chamar a palavra “mãe” de ofensiva me partiu o coração.  Eu tenho duas filhas e imaginar um mundo pra elas onde não existem mais as proteções sociais em que as minhas liberdades se baseiam me tira o sono.  Pelo menos elas não são atletas e não vão ter a desilusão de ver que nessa geração os esportes não são mais para meninas.  E depois dessas preocupações veio o quebra-quebra em Washington DC e toda a insegurança que essas crises políticas trazem.

Eu sempre gostei de ler e estudar as escrituras é algo que eu faço com alegria.  Mas ouvir a voz do Senhor é mais do que aprender sabedoria da vida e experiências dos servos de Deus do passado.  É saber entender os conselhos que Ele tem especificamente pra mim e segui-los com exatidão.  E nisso eu tenho dificuldade.

Então esse ano eu tenho que criar espaços de tempo para parar e ouvir.   E vou escrever aqui as descobertas que eu fizer pelo caminho.

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terça-feira, 23 de junho de 2020

Esperando em Deus em 2020

Hoje eu vi um grilo amarelo e pensei que no meu azar:  o que eu precisava mesmo era encontrar uma esperança!

Desde 2015 que a vida parece ter evoluído de treinamento para campeonato.  Mas esse ano de 2020 tem sido como uma final que foi para os pênaltis, pois haja coração.  Não bastassem os desafios coletivos que estamos vivendo, nossa família tem enfrentado muitas incertezas.  Posso dizer que a maioria dos desafios se desdobraram de forma positiva.  Mas outros que me eram tão queridos e importantes tiveram desfechos inesperados.  E assim a vida vai.


Eu confesso que eu tenho me surpreendido com a minha paciência.  Acho que essa coisa de ficar mais velho traz mais do que rugas e quilinhos extras.  Cada vez mais eu aprendo que o lance é remar a favor da maré e aceitar a vontade de Deus.  O que eu não contava era que as tristezas, as decepções, derrotas me trariam não só empatia e sabedoria para aceitar.  Olhando bem pra dentro de mim, percebi algo que me incomodou bastante.


Sempre me considerei uma pessoa de fé e acho que eu tenho razão para isso.  Eu acredito em um Deus que é meu pai e que me ama e enviou o Seu filho Unigênito por mim e por todos nós.  Amo aprender sobre Ele em todas as fontes, na sua palavra, na natureza e na vida de seus filhos.  Creio que Ele é nosso criador e que fez todas as coisas. Em épocas boas e ruins, minha atenção tem se voltado para Ele, para agradecer e para pedir.   E tenho buscado viver a minha vida de acordo com os mandamentos Dele, me arrependendo e me corrigindo quando não consigo.


Mas descobri ultimamente que a minha esperança tem vacilado bastante.  Não sei explicar quando ou como isso aconteceu, mas eu percebo que eu não tenho mais aquela mente otimista que eu tinha antes.  Eu tinha plena certeza que tudo daria certo mais cedo ou mais tarde e desistir para mim era algo bem difícil de fazer.  Quando não dava eu me surpreendia!   E depois?  Continuava tentando.  Porque um dia tinha que dar certo!


E como é a Luciana agora?  Mais ou menos a mesma coisa.  Essa semana, por exemplo, meu filho mais novo finalmente começou a mostrar progresso no desfralde.  Estou há semanas deixando que ele fique sem fraldas durante o dia, apesar de quase todos os dias ele ter pelo menos 1 acidente.   Recuar?  Jamais.  Lavo muitos panos, mas esse garoto vai aprender!  Ele tem 3 anos e é saudável... É claro que ele consegue.


E o que mudou então?  Ah... Mudou que agora eu não espero nada além do provável.  A minha persistência passou a ser muito mais seletiva.    Comecei, portanto, a colocar limites em Deus e no que Ele pode fazer por mim.  


Já pensou se Moisés tivesse feito isso quando o Espírito Santo o instruiu a abrir o mar? 


Perigoso, eu sei.  Mas eu ainda não sei como mudar isso.  Estou assim como o Salmista:


"Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim brama a minha alma por ti, ó Deus!

A minha alma atem sede de Deus, do bDeus vivo; quando irei e me apresentarei ante a face de Deus?
As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?
Quando me lembro disso, dentro de mim derramo a minha alma, pois eu havia ido com a multidão; fui com eles à casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava.
Por que estás abatida, ó alma minha, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face."  (Salmos 42:1-5)
Existe uma distância entre aquilo que a gente sabe na nossa mente e aquilo que a gente agarra com o coração.  Eu não imagino um Deus criador limitado, mas a minha alma parece não contar mais com o Seu socorro e está pronta para aceitar o que vier sem resistir.  Mas se até Jesus perguntou no Getsemâni se dava para passar sem essa, quem sou eu para desistir?

Há esperança.  Até em 2020!  E principalmente em 2020!








segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Sorvete para alma

Estou há 1 mês no Brasil.  Em dezembro de 2018 realizei o sonho de ser tia com um lindo menino chamado Davi.  Como a vida é cheia dessas ironias, essa alegria veio justamente quando eu não poderia aproveitá-la por estar em outro país.  Então agora em dezembro tive enfim a oportunidade de vir para o aniversário de um ano dele e de quebra pude passar o natal e o ano novo com meus pais.

Não foi uma viagem fácil, mas para viajar sozinha com 3 pequenos você tem que criar expectativas bem mais modestas do que as dos outros viajantes pelo mundo.  Na vinda, por exemplo, minhas ambições eram que ninguém se machucasse, se perdesse no aeroporto, sentisse dor de ouvido ou vomitasse em um vôo de 10 horas.  Felizmente apenas o último desses desejos não foi atendido, mas o acontecimento não chegou a ser uma tragédia.  Eu nem sabia o quanto o meu psicológico já tinha se adaptado a esse tipo de coisa nessa década de maternidade.

Em solo firme, eu também simplifiquei bastante.  Isso me custou, certamente, a oportunidade de rever os amigos que eu gostaria de rever.  Mas uma saída nas ruas cariocas e eu rapidamente me lembrei porque a maioria das mães tem até 2 filhos por aqui: cada saída na rua é uma aventura perigosa. Calçadas em pedra portuguesa que fazem as crianças tropeçarem, trânsito enlouquecido, o cachorro que alguém soltou da coleira, as pessoas aleatórias que vem falar com seus filhos (todos falam com as crianças aqui), além do alerta constante para evitar criminosos...  Administrar tudo isso quando você não consegue nem dar mãos a todas as crianças requer muita prática e eu realmente estava enferrujada.  Fiquei em casa a maior parte do tempo.  Ainda bem que aqui "em casa" inclui piscina e praia também.

Ah, e fui a Igreja!  Desde que me tornei adulta fiz um compromisso comigo mesma de que onde quer eu estivesse eu frequentaria a Igreja aos domingos; eu acredito que os anjos disseram amém quando me ouviram pois tenho conseguido cumprir essa meta desde os 18 anos.  No meu primeiro domingo, fui na ala que frequentava antes me mudar e revi muitas pessoas, o que foi muito legal.  Mas claro, muitas eu não conhecia.  Uma delas estava no canto, com uma cara triste, e eu fui até ela me apresentar.  Ela se chamava Gabriela e estava visitando a Igreja havia algumas semanas.  Me contou que estava muito desanimada de vir e que estava a ponto de desistir.  Eu falei pra ela que tudo na vida que era bom tinha uma dificuldade no início, mas que se ela persistisse teria muita alegria.  Contei da paz e das bênçãos de separar um tempo para o Senhor todas as semanas.

Ontem, praticamente um mês depois, estive na mesma ala e encontrei a Gabriela de novo.  Estava sorridente e feliz e tinha uma amiga que ela trouxera pra conhecer a Igreja.  Fui invadida por um sentimento maravilhoso de gratidão; ainda é difícil de segurar as lágrimas quando penso nessa singela alegria de ver o sorriso de quem antes estava triste.  Realmente a vida tem muitas delícias: sorrisos de criança, chocolate, abraço de quem se ama, presente esperado, uma lista interminável.  Mas ver a mão do Senhor na vida de seus filhos, é como um sorvete que satisfaz. 


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, oceano, céu, atividades ao ar livre, água e natureza
  

segunda-feira, 23 de julho de 2018

O Bom é difícil

Há exatamente um ano atrás, estava eu na sala do nosso apartamento do Rio de Janeiro, malas prontas e toda uma vida para resolver.  Eu tinha vendido um bocado de coisas, mas decidir o que fazer com o que não era para venda, doação, ou lixo é que era o problema.  Porque na verdade não sabíamos o que continuamos sem saber, em outras palavras, não tínhamos ideia do que poderia ser necessário no futuro.  Porque pior do que mudar de vez é mudar para depois voltar, logisticamente falando.  O definitivo pode ser mais doloroso, mas é definitivamente mais simples.

Na época alguns amigos e familiares foram uma ajuda fundamental e nos diziam palavras animadoras.  Havia uma esperança dentro de mim de que as coisas poderiam se tornar mais fáceis.  Afinal, eu estava ali com um bebê recém nascido, duas meninas pequenas e mais coisas para resolver do que o meu tempo ou força permitiriam. 

Tolice.

Doze meses depois, as coisas efetivamente mudaram muito.  Aquelas meninas hoje estão adaptadas, são fluentes em um outro idioma e o bebê que só mamava agora come e vai para onde quer.  O marido que não tinha ideia do que o mestrado traria para sua carreira, agora está quase terminando um estágio que ele adora.  Aqueles problemas que nos afligiam em sua maioria se resolveram.  Outros apareceram.  Mas a minha esperança nunca se concretizou, e de fato, deixou de ser mesmo uma esperança. 

Me lembro de aos 20 anos ler o livro de Eclesiastes e imaginar um velho de barbas brancas dizer as palavras:

"Todas as coisas cansam tanto, que ninguém o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir." (Eclesiastes 1:8)

Que surpresa que uma década depois seria exatamente assim que me sentiria, antes mesmo de ter (muitos) cabelos brancos.  Porque a cada dia que passa, me parece que o denominador comum entre o sortudo e o azarado é a exaustão.  Todo mundo sabe que os infortúnios da vida exigem o esforço da superação mas ninguém nos conta que as oportunidades e o sucesso nos trazem muito trabalho.  E aí a gente vê aquele artista famoso e transtornado ou o empresário rico e desesperado e aquilo nos parece tão sem sentido. 

Amanhã comemora-se em Utah o dia dos pioneiros, que é o aniversário da chegada dos imigrantes mórmons na cidade de Salt Lake City.  Penso em como é chegar de viagem e encontrar um deserto para cultivar e uma casa para construir onde mal tinha árvore para dar madeira.   Ver o que existe hoje por aquelas bandas é impressionante todas as vezes que nos lembramos da pobreza e precariedade daquelas pessoas.  Ver o que elas conseguiram construir me dá mais esperança naquilo que eu estou construindo, com tantos recursos e oportunidades.  Pois como explicou o próprio Salvador Jesus Cristo:


Qual é, pois, o amordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração? Bem-aventurado aquele servo, o qual o senhor, quando vier, achar afazendo assim. Em verdade vos digo que o aporá sobr"btodos os seus bens.
Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se, Virá o senhor daquele servo no dia em que não o espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e porá a sua parte com os infiéis.   E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não sepreparou, anem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;Mas o que anão a soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E a qualquer que bmuito for dado, muito se lhe cexigirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá." 
Lucas 12:42-48
Sou grata por minhas montanhas e não as trocaria por nenhum vale.  Mas hoje reconheço a luta como parte inseparável da vida e não me culpo mais por minhas complicações.  E isso é, da mais inesperada das formas, libertador.